Unicidade de propósito de A.A

Box 4-5-9, Fev. Mar. 2003 (pag. 3-4)=> https://www.aa.org/sites/default/files/newsletters/sp_box459_april-may04.pdf

Título original: “Unicidad de propósito”.

“Unicidade de Propósito” é essencial para o tratamento do alcoolismo. Motivo para merecer tão exagerado enfoque é o de superar a negação. A negação associada ao alcoolismo é astuta, desconcertante e poderosa e afeta ao paciente, a quem o ajuda e à comunidade. A menos que o alcoolismo se mantenha incessantemente em primeiro plano, outros assuntos irão usurpar a atenção geral.

Os trabalhadores no campo da saúde mental e da pesquisa têm uma grande dificuldade com a Quinta tradição de A.A. – “Cada Grupo é animado de um único propósito primordial: o de transmitir sua mensagem ao alcoólico que ainda sofre”. Uma vez que estes trabalhadores costumam admirar o sucesso e a fácil disponibilidade geográfica de Alcoólicos Anônimos, pode-se compreender que desejem ampliar a composição dos membros para incluir pessoas que abusam de outras substâncias.

Também percebem que o uso apenas do álcool é cada vez menos frequente, e o abuso de várias drogas combinadas é mais comum. Estes trabalhadores da saúde mental consideram que a unicidade de propósito de A.A. é antiquada e exclusivista. Acham que essa Tradição é uma Blue Card – Cartão Azul relíquia dos primeiros dias de A.A. e que os jovens, os pobres e as minorias com antecedentes criminais serão excluídos.

Além do mais, quando não há fácil disponibilidade de um centro profissional para o tratamento de drogas ou um Grupo de Narcóticos Anônimos (NA) é difícil para estes profissionais entender porque A.A. com sua tradição de trabalho do Décimo Segundo Passo, não intervém para preencher esse vazio. Como trabalhador na área da saúde mental e pesquisador, acredito que há dois argumentos que anulam essas preocupações.

O primeiro, a Terceira Tradição de A.A., “Para ser membro de A.A., o único requisito é o desejo de parar de beber”, faz com que A.A. não seja exclusiva. A cada ano A.A. acolhe entre seus membros muitos milhares de alcoólicos pobres, alcoólicos com problemas de drogas, alcoólicos pertencentes às minorias e alcoólicos condenados pela Justiça. A.A. não exclui ninguém que tenha o desejo de parar de beber.

O segundo argumento, que a “Unicidade de Propósito”, como necessária para superar a negação, é ainda mais poderoso. Se houver a opção de escolher, ninguém irá querer falar do alcoolismo. Ao contrário: dedicam-se muitas manchetes à adição às drogas, e investem-se muitos fundos para sua pesquisa e para atrair a atenção de profissionais clínicos para essa área. Depois de dois anos de trabalho no Centro Federal de Tratamento de Narcóticos de Kentucky, eu, um simples professor assistente, fui convidado para falar a respeito da adição à heroína.

Em fins dos anos 90, como professor titular e depois de 25 anos de pesquisa sobre o alcoolismo e sua enorme morbosidade, finalmente me pediram para falar sobre o álcool na minha cidade natal. O tema que me propuseram foi “Porque o álcool é bom para a saúde”. Em poucas palavras, o maior obstáculo para o tratamento do alcoolismo é a negação. Comecei minha carreira psiquiátrica num Centro de Saúde Comunitária profundamente dedicado.

A comunidade tinha manifestado sua opinião de que o abuso do álcool era seu maior problema. Depois de dez anos em operação, o centro se limitava a tratar os problemas segundo, terceiro e quarto da comunidade. Não se dedicavam recursos ao tratamento do álcool. Trasladei-me a outro Centro Comunitário de Saúde Mental que também havia, ouvido seus cidadãos e tinha aberto um ambulatório para o tratamento do alcoolismo. Foi-me pedido para cobrir o posto de codiretor da clínica e fui o último psiquiatra contratado por esse centro de saúde mental.

Significativamente, eu não tinha experiência com o alcoolismo, mas nenhuma outra pessoa queria o trabalho. Com exceção do tabaco, o álcool é um problema de saúde e familiar maior que todas as demais drogas. O abuso do álcool custa ao país mais que os gastos totais orçados para todas as doenças de pulmão e câncer. Depois do fumo e da obesidade, o abuso do álcool é talvez a terceira causa de mortes no país.

Entretanto, é terrivelmente difícil tomar conhecimento deste perigo. O abuso do álcool cobra 100.000 vidas ao ano, e nos pavilhões médicos e cirúrgicos custa de duas a seis vezes mais tratar 25% dos pacientes com problemas de alcoolismo, do que tratar os demais pacientes. Entretanto, as residências médicas e cirúrgicas, tão conscientes dos gastos neste século XXI, excluem invariavelmente o alcoolismo de seus programas. Não há tempo suficiente, dizem, para prestar atenção ao alcoolismo.

Parta combater esta negação, o princípio da “Unicidade de propósito” de A.A. é uma necessidade. Dito de outra maneira, o sucesso de A.A. documentado experimentalmente no tratamento do alcoolismo se deve, mesmo em parte, a que os Grupos de A.A. são o único lugar do mundo no qual o foco é o alcoolismo e unicamente o alcoolismo. Simplesmente, não há outra maneira de superar a negação. Resenhas biográficas: O Dr. George Eman Vaillant (1), nascido em 1934 nos EUA, é psiquiatra e psicanalista, trabalha em Harvard; é mundialmente conhecido por seu livro “A História Natural do Alcoolismo”, de 1983, recentemente revisto e traduzido para o português e é há décadas respeitado como uma das maiores autoridades mundiais em alcoolismo. Grande amigo de A.A., quando escreveu o artigo acima era Custódio (não alcoólico) da Junta de Serviços Gerais nos EUA (lá, são 21 Custódios: 14 alcoólicos – Classe B, e sete não alcoólicos – Classe A), encargo que ocupou de 1998 até 2004 quando foi substituído por outro médico e também professor de Harvard, o Dr. Bill Clark.:

Em agosto de 1999, o Dr. Vaillant esteve no Brasil para participar do 13º Congresso Brasileiro de Alcoolismo celebrado no Rio de Janeiro entre os dias 12 e 15 de agosto de 1999.

Você também poderá ler no Box 4-5-9, Fev. Mar. 2003(pag. 3-4) o artigo escrito pelo Dr. Vaillant“ Unicidade de propósito” em : https://www.aa.org/sites/default/files/newsletters/sp_box459_april-may04.pdf

No Brasil este livro é publicado pela Editora Artmed.