Prova viva

AS CHAMADAS COISAS SIMPLES DEMONSTRAM COMO A PRÁTICA DO PROGRAMA DE A.A., COMBINADA COM OUTROS CUIDADOS, PODE REALIZAR OS SONHOS DE UMA VIDA, MESMO PARA UM AA COM OUTROS PROBLEMAS ALÉM DO ÁLCOOL.

Queridos irmãos e irmãs, em 2008, contraí HIV na vivência do alcoolismo e da dependência de outras drogas. Minha carga viral ficou altíssima, trazendo-me AIDS e seus desdobramentos: tuberculose, toxo-plasmose, hepatite, erisipela, anemia e começo de broncopneumonia.  

A neurotoxoplasmose foi um dos agentes causadores do AVC que tive, o qual deixou-me 21 dias em coma numa UTI. Cheguei a pesar 31 kg. Em seguida, fiquei internado por três meses com perda parcial da audição, coordenação motora (tenho espasmos musculares no braço esquerdo), equilíbrio, sensibilidade e visão (indefinição de imagens). 

Tudo isso aconteceu por eu ter bebido e feito uso abusivo de outras drogas. Fui escravo do álcool durante 30 anos, de outras drogas por 25 anos. Cheguei à condição de morador de rua. Meu alcoolismo começou aos cinco anos de idade, experimentando a bebida doce que meu pai fazia. Aos 11 anos, conheci o mundo paralelo ao alcoolismo: o das outras dependências. Fui dependente de três drogas ilícitas, além do consumo diário de três litros de bebida e quatro maços de cigarros. Fumava colombiano, americano, tomava ácido e bolinhas. 

Hoje, permaneço em recuperação. Sigo todas as recomendações do médico. Faço exames preventivos periodicamente. O doutor, após ler os resultados, tem me informado que es-tão todos bons: minha carga viral está controlada – o HIV continua negativado. Isto me tranquiliza! 

Sou membro de A.A. há mais de dez anos; de N.A. há mais de três anos. Tenho uma vida satisfatória. Moro na minha casinha, eu e Deus, como O concebo, onde desfruto de certa liberdade e autonomia: consigo limpar a casa, cozinhar, passar roupas, fazer minhas compras, ir à feira e ao banco pagar minhas contas.

Dentro de casa, não dependo de outras pessoas para fazerem coisas para mim. Mas, do portão para fora, dependo de todos; o que quero dizer é que A.A. proporciona-me essa vida melhor. Sem a compulsão por bebida alcoólica, consegui até resgatar o respeito e o amor-próprio que o alcoolismo havia me tirado. Consegui terminar o Ensino Fundamental, concluí o Ensino Médio e, desde junho, faço um curso técnico. Neste final de ano, planejo prestar o ENEM, com esperança de cursar uma faculdade em 2020.

Para mim, tudo isto são provas de que a programação de Alcoólicos Anônimos funciona para quem deseja deixar de sofrer; ter uma vida melhor. A.A. não é apenas para parar de beber, mas também para indivíduo tornar-se um ser humano melhor. Basta dar uma chance a si mesmo, vir nos conhecer, tomar um cafezinho conosco, acreditar que há saída. Em A.A., não importa quem você seja; o único requisito para tornar-se membro é a vontade de parar de beber. Sempre há um grupo ou es-critório de A.A. por perto!

R.
 Santos/SP Edição: 182 – página: 10