Pirâmide invertida  

O sentido da democracia em A.A.

Olá, 

Ficamos felizes por voltarmos a falar-lhe sobre nossa Irmandade. Desta vez, focalizaremos aspectos pouco conhecidos de A.A., relacionados à maneira como convivemos, nos organizamos e tomamos decisões.

Começamos definindo o que é, para nós, um grupo de A.A.: “Dois ou três alcoólicos quaisquer, reunidos em busca de sobriedade, podem autodenominar-se um grupo de A.A., desde que, como grupo, não possuam outra afiliação”.

Nossos grupos são entidades espirituais, simples e informais, sem existência jurídica, funcionando em salas alugadas ou cedidas. Conforme crescem, elegem servidores voluntários, temporários e rotativos, um dos quais atuará como elo de ligação com a Irmandade como um todo: o representante de serviços gerais (RSG). Os grupos são autônomos em seus assuntos, autossuficientes financeiramente e possuem autoridade máxima em A.A., delegando-a, porém, aos seus representantes eleitos, que assumem responsabilidades nos demais níveis da estrutura. Possuem comitês de serviço, eleitos e rotativos, compostos, em geral, por coordenador, secretário, tesoureiro, RSG e alguns outros serviços, chamados encargos.

Nas reuniões cotidianas dos grupos há, sobretudo, troca de experiências e estudo da literatura de A.A. Grande atenção é dada a quem comparece pelas primeiras vezes. Há, também, reuniões abertas para a comunidade e outras só para pessoas com problemas de bebida. E há encontros administrativos periódicos – chamados reuniões de serviço, para avaliação e planejamento das tarefas, providências e responsabilidades para manter em funcionamento o grupo – e A.A. como um todo.

O próximo nível é o distrito de A.A. (conjunto de grupos, representados por seus RSGs eleitos), onde grupos recém-formados podem ser apadrinhados (orientados, apoiados). Também o distrito elege um comitê de serviço entre seus RSGs, conduzido por um membro coordenador de distrito (MCD); este, por sua vez, representará tais grupos junto à área de A.A. (conjunto de distritos) local. Até poucos anos atrás, uma área correspondia a uma Unidade da Federação. Porém, uma vez que o mapa da concentração de grupos e distritos não corresponde à divisão territorial brasileira, a abrangência de cada área de A.A. passou a ser definida em função da proximidade dos grupos que a compõem por adesão, desvinculando-se da antiga lógica estadual. As áreas realizam assembleias anuais, para prestação de contas e deliberações em torno dos assuntos pautados pelos grupos. Eventualmente, criam escritórios de serviços locais (ESLs), com existência jurídica, para o fornecimento local de literatura e revistas, apoio aos grupos, bem como para receber, e encaminhar a estes, pedidos de ajuda externos.

Nas assembleias das áreas são eleitos, além dos comitês de área, os delegados à Conferência de Serviços Gerais (CSG), evento anual onde é expressa a voz de Alcoólicos Anônimos em nível nacional. Da Conferência participam, além dos delegados de áreas, os servidores do nível nacional da estrutura de Alcoólicos Anônimos: a Junta de Serviços Gerais de Alcoólicos Anônimos do Brasil, formada por 14 custódios, alcoólicos e não alcoólicos, além de onze coordenadores de Comitês de serviço nacionais (Relações Públicas, Finanças, Literatura, Publicações Periódicas e outros) e da Diretoria Executiva do Escritório de Serviços Gerais (ESG) – pessoa jurídica em nível nacional – cuja composição inclui o gerente geral do ESG, funcionário mais graduado dentre o quadro de pessoal que, assim, é igualmente representado na Conferência. Todos os conferencistas têm direito a voz e voto nas Plenárias e Comissões de trabalho deste evento.

Até aqui, a descrição é similar a uma estrutura convencional. Contudo, diferentemente da maior parte das organizações sociais, não há vínculo hierárquico entre os níveis, tampouco dentro de cada nível. Nenhum custódio ou diretor de escritório, nenhum delegado ou coordenador de área, distrito ou grupo tem qualquer poder de mando sobre os demais. Ninguém pode ser expulso, punido nem sequer exposto coletivamente.

Todas as decisões são tomadas coletivamente, por consenso ou maioria absoluta, apuradas por meio de voto aberto ou secreto, assim como ocorre com a eleição das lideranças em todos os níveis.

As Doze Tradições e os Doze Conceitos para Serviço Mundial de A.A. detalham tal funcionamento:

  • unidade é concebida como principal fundamento da estrutura: o bem estar comum vem em primeiro lugar, para que a reabilitação pessoal possa, de fato, encontrar guarida (Primeira Tradição);
  • Somente uma autoridade é reconhecida: um Poder Superior, como cada um o concebe (Segunda) – tal diretriz não tem caráter religioso, significa apenas que as lideranças o são tão somente pelo exemplo e pelo espírito de serviço, não pelo exercício de poder.
  • A. não recusa ninguém que tenha problemas com a bebida e queira fazer algo a respeito (Terceira).
  • Todos os níveis da estrutura são autônomos em seus assuntos (Quarta), porém, a autoridade máxima é dos grupos, que delegam autoridade aos servidores dos demais níveis – por isso, em A.A. é utilizada a analogia da pirâmide invertida para qualificar os elementos democráticos, combinados com um equilíbrio entre autoridade e responsabilidade;
  • Tudo que vem a ser decidido, criado e realizado em A.A. tem apenas um propósito primordial, que é manter a sobriedade dos membros e transmitir sua mensagem a mais alcoólicos desejosos de viver sobriamente (Quinta); A.A. não sanciona, financia nem empresta seu nome a nenhum empreendimento alheio à sua missão (Sexta); Tudo em A.A. é financiado pela contribuição voluntária, anônima e modesta dos membros, recusando-se qualquer doação de fontes externas (Sétima);
  • Todo serviço de transmissão da mensagem é voluntário, podendo-se contratar pessoas ou empresas para a realização de serviços especializados (Oitava). Assim, a estrutura necessária é mínima, porém, efetiva, rotativa e funciona com métodos detalhados de escolha das lideranças, cujas atribuições são, também, especificadas de modo minucioso (Nona), num Manual de Serviço e nos documentos legais de A.A.;
  • Alcoólicos Anônimos não opina sobre qualquer assunto alheio ao seu propósito primordial, portanto, o nome de A.A. jamais deve aparecer em controvérsias públicas. Além disso, internamente, os membros evitam assuntos alheios e controversos, especialmente política e religião (Décima);
  • As relações públicas de A.A. caracterizam-se pela atração, ao invés da promoção publicitária convencional, divulgando publicamente seus princípios, mas não a identidade de seus membros (Décima Primeira); assim, os princípios estão acima das personalidades em A.A. (Décima Segunda), conferindo a dimensão espiritual de humildade e deflação do ego que dá tônica aos Doze Passos de A.A. e conforma o manto protetor para que a Irmandade permaneça funcionando harmonicamente enquanto for necessária.

Os Doze Conceitos levam tais princípios além, na perspectiva do serviço mundial, explicitando conceitualmente e detalhando, do ponto de vista prático, as relações entre autoridade máxima e delegada/operacional; entre autoridade e responsabilidade; os direitos de decisão, participação e apelação; as atribuições da Conferência, dos custódios, comitês, escritório, respectiva diretoria e funcionários; o conceito de liderança em A.A. e métodos para sua escolha; e as garantias para que a Conferência preserve o espírito democrático da fraternidade de A.A.

Agradecemos por sua atenção e por permanecer em contato conosco!

Junta de Serviços Gerais de Alcoólicos Anônimos do Brasil

Comitê Trabalhando com os Outros