O plano das 24 horas

Prezado *|PNOME|*,

É sempre com satisfação que voltamos a escrever-lhe! Desta vez, gostaríamos de expor, com mais minúcia, a ideia sugerida entre os membros de Alcoólicos Anônimos, de viver um dia de cada vez — também chamada plano das 24h horas.

Trata-se de uma ideia simples e aplicável a diferentes aspectos da vida sóbria, útil e feliz que, agora, tentamos construir e manter. Para começar, muitos AAs se sentem mais seguros com evitar o primeiro gole pelas próximas 24 horas do que com a resolução de “nunca mais” beber. Muitos de nós já quebramos inúmeras resoluções similares em nossas vidas. De todo modo, trata-se de questão de escolha pessoal, cada membro tem o privilégio de interpretar nosso programa como quiser.

Nosso cofundador Bill W. declarou, em 1949: “Eu, pessoalmente, pretendo nunca mais beber”, esclarecendo que isto é diferente de dizer “nunca mais beberei”, pois evitamos nos comprometer a fazer algo que “nós, alcoólicos, nunca poderíamos fazer” apenas com nossos recursos pessoais. Preferimos deixar lugar à ideia de que um Poder Superior — como cada um O concebe — nos libertará da obsessão de beber, contanto que sigamos o programa sugerido em A.A.

Em segundo lugar, o plano das 24h aplica-se especificamente à vida emocional do alcoólico. Emocionalmente falando, entendemos que não deveríamos viver no ontem, nem no amanhã. Assim, já ao acordar, pensamos nas próximas 24 horas. Pedimos a um Poder Superior para dirigir nossos pensamentos, a fim de que sejam desligados da autopiedade, dos motivos desonestos e do interesse próprio. Ao longo do dia, em momentos de perturbação, fazemos um inventário relâmpago, que pode ser de grande ajuda para acalmar nossas oscilações diárias e emoções tempestuosas, causadas por pessoas ou acontecimentos que nos desequilibram e nos levam a cometer erros — pior, nos levam ao risco de voltar ao primeiro gole. E quando nos deitamos, à noite, revemos construtivamente nosso dia: ficamos magoados, fomos egoístas, desonestos ou medrosos? Guardamos algum segredo que deveria ser logo discutido com nossos padrinhos ou madrinhas? O que poderíamos ter feito melhor? Cuidamos para não nos deixar abater pela preocupação, remorso ou morbidez, assim reduzindo nossa utilidade para com nós mesmos e os outros. Após tal revisão, pedimos perdão a um Poder Superior e buscamos, com Sua ajuda e de forma honesta, vislumbrar as medidas corretivas que deveríamos tomar nas próximas 24 horas.

A ideia de viver um dia de cada vez segundo os princípios espirituais propostos nos Doze Passos de A.A. encontra-se desdobrada, em especial, no Décimo, Décimo Primeiro e Décimo Segundo Passos, pelos quais buscamos praticar todos os doze em uma base diária, como um novo modo de vida. Uma vez que tais práticas — de rendição, esperança, entrega, autoanálise, compartilhamento, mútua ajuda, mudança pessoal, perdão, reparação, meditação, altruísmo sob a forma de ajuda a outros alcoólicos e espírito de serviço no âmbito de A.A. — tenham se tornado hábitos pessoais, nossa vida se torna mais interessante e proveitosa; o tempo gasto com elas consegue tornar melhores e mais felizes as outras horas de cada dia, até que passamos a vivenciá-las com convicção e satisfação.

Em terceiro lugar, e por outro lado, praticar o plano das 24 horas não significa que cada membro, grupo ou A.A. como um todo não deveriam planejar como irão funcionar em médio e longo prazos. Novamente citando Bill W., “a fé sozinha nunca construiu a casa em que você mora. Tinha que haver um plano e um bocado de trabalho para que essa casa se tornasse realidade”. Assim, buscamos, como indivíduos e como servidores em A.A., desenvolver visão, isto é, a capacidade de fazer boas estimativas, para o futuro imediato como para o mais distante. Tal capacidade não conflita com o hábito de vivermos emocionalmente em uma base diária, mas sim o complementa. É por isso que, como Irmandade, nossas ações de cooperação coletiva — esta enunciada como propósito primordial em nossa Quinta Tradição —, assim como nossas ações individuais de passar a mensagem de A.A. a outros alcoólicos — tal como sugere nosso Décimo Segundo Passo, são aquelas que garantem nossa vida e crescimento, pessoal e coletivo, impedindo a estagnação e o risco da volta ao caos.

Tais ações, amorosamente planejadas para além das nossas próximas 24 horas, são as “obras” sem as quais nossa fé seria morta!

Gratos por permanecer conosco,

Junta de Serviços Gerais de Alcoólicos Anônimos do Brasil

Obs.: Texto baseado nos conteúdos do livro Na Opinião do Bill, págs. 16, 89, 132, 233, 243, 284 e 317.

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