Dr. William Duncan Silkworth (1873 -1951)

Box 4-5-9, Inverno (Dez.) 2010 (Pág. 4ª 6)  https://www.aa.org/sites/default/files/literature/smf-123_LonersInternationalMeetingCorrespondence_EN_0222.pdf

Título original: “William Duncan Silkworth: ‘El pequeño doctor que amaba a los borrachos’”

Bill W. dizia com frequência que o programa de A. A. tinha uma grande dívida com a religião e a medicina. Atribuía o mérito da contribuição religiosa ao Grupo de Oxford e ao Dr. Sam Shoemaker e ao mesmo tempo indicava que os princípios espirituais vinham da antiguidade e eram universais, portanto, propriedade comum da humanidade.

Enquanto à contribuição da medicina, atribuía grande parte do mérito ao Dr. William Duncan Silkworth, o médico que tinha tratado dele no Hospital Towns de Nova York em 1934.

A gratidão que Bill sentia por Silky, como ele o chamava, parecia não ter limites, e nos últimos anos de vida, Bill tratou de ajudá-lo inclusive, financeiramente.

Quais foram as principais contribuições do Dr. Silkworth a Bill e a A.A.? Houve varias. Uma delas foi mostrar a Bill a natureza mortal e incurável do alcoolismo ao defini-la como “uma alergia física junto como uma obsessão mental”.

O Dr. Silkworth iria-se converter num forte defensor da crença de que o alcoolismo tem uma causa física além de causas emocionais e mentais. Defendeu esta crença em artigos publicados em revistas de medicina. Outra contribuição foi sua resposta compreensiva e favorável à iluminação espiritual que Bill teve no Hospital Towns em dezembro de 1934, uma experiência que colocou Bill no caminho para a sobriedade permanente e mudou para sempre sua vida (outro médico poderia ter considerado essa experiência como um sinal de transtorno mental ao invés de um possível ponto de mudança na recuperação de Bill).

Depois que Bill saiu do hospital, o Dr. Silkworth lhe deu permissão para voltar e contar sua história a outros pacientes alcoólicos, uma prática que mais tarde se converteria na tradição de “levara mensagem”.

Embora atualmente seja uma pratica habitual, membros de A.A. ir visitar alcoólicos hospitalizados, o Dr. Silkworth estava correndo risco profissional ao permitir que Bill fizesse isso em 1935.

Depois, quando A.A. se converteu num movimento e publicou o Livro Grande em 1939, o Dr. Silkworth deu seu aval escrevendo “A opinião do médico”que aparece no começo do livro em todas as edições. Finalmente, O Dr. Silkworth continuou sendo amigo de A.A. e recomendava o programa a outros médicos. Ao rever seu histórico poder seria dizer que foi a pessoa certa no momento certo para o que Bill e A.A. precisavam. William Duncan Silkworth foi por formação e por temperamento o tipo de médico que poderia ser atraído pela difícil especialidade de tratar alcoólicos e outros adictos.

Nascido no Brooklin em 1873 mostrou desde muito cedo interesse pela medicina e os seus aspectos emocionais e mentais. Por natureza era uma pessoa compassiva que poderia manifestar um profundo interesse pelos seus pacientes independentemente da especialidade que tivesse escolhido. Em 1892 matriculou-se na Universidade de Princeton. Foi um bom aluno e em 1896 iniciou seus estudos práticos de medicina no Hospital Bellevue. Este era o lugar ideal para iniciar uma carreira de medicina na especialidade do tratamento do alcoolismo e a adição às drogas, embora este não tivesse sido seu objetivo no início.

Mas, como registrado num artigo da Grapevine publicado em 1951, descobriu enquanto trabalhava no Bellevue que se sentia atraído pelos alcoólicos e estes por ele.“Quando ninguém podia acalmar um bêbado alterado, O Dr. Silkworth podia fazê-lo”dizia um artigo da Grapevine. “E descobriu, para sua surpresa, que os bêbados mais difíceis falavam com ele tranquilamente – e inclusive mais surpreendente, muitos deles choravam. Pareceu evidente que ele exercia – ou era exercido através dele, algum tipo de influencia degeladora nas gelas fontes da vida do alcoólico”.

Em 1902 casou-se com Marie Antoinette Bennett, que seria sua companheira a vida toda num casamento muito unido. Tiveram apenas um filho que morreu uma semana depois de nascer. O Dr. Silkworth tinha todas as qualidades para ser um bom homem de família e é possível que a energia que poderia ter consagrado a criar filhos a dedicara ao trabalho.

Apesar da sua excelente formação e talento, o Dr. Silkworth passou por alguns anos de desilusão antes de descobrir a sua verdadeira vocação.

Tentou montar um consultório particular, mas descobriu que seria mais conveniente trabalhar regularmente em hospitais.

Durante a Primeira Guerra Mundial passou dois anos como membro do corpo psiquiátrico do Hospital do Exercito dos EUA em Platsburg, Nova York. Por coincidência, esta foi a mesma base militar em que Bill W. teve sua formação de oficial, mas os dois não se conheceram durante esse período.

O Dr. Silkworth também passou vários anos no corpo médico do Instituto Neurológico do Hospital Presbiteriano de Nova York, atualmente conhecido como Columbia-Presbyterian.

Durante algum tempo teve um bom salário e parecia estar a caminho de se tornar rico. Mas na quebra da Bolsa de 1929 perdeu toda sua poupança e viu-se obrigado a aceitar um posto de trabalho no Hospital Charles B. Towns, por um salário de 40 dólares semanais.

Aparentemente um grande revés na sua vida, isto resultaria ser um caso proverbial de que, “não há mal que por bem não venha”.

Foi lançado na carreira de médico especializado no tratamento do alcoolismo e da drogadicção. Uma consequência disso foi a de ter a Bill W. como paciente e dar-lhe conselho e ajuda importantes. Na sua história pessoal, Bill descreve o Hospital Towns como um hospital renomado a nível nacional para a reabilitação mental e física dos alcoólicos. Foi-lhe recomendado pelo seu cunhado, o Dr. Leonard Strong. “Sob o chamado tratamento da beladona começaram a clarear meus sentidos”, escreveu Bill sobre a sua primeira estadia no Hospital Towns. “A hidromassagem e exercícios suaves me ajudaram muito. E o melhor de tudo, conheci um médico muito amável que me explicou que, embora sem dúvida eu fosse um homem egoísta e bobo, havia estado gravemente doente, física e mentalmente”.

Isso foi o começo de sua amizade e no início, parecia ao Dr. Silkworth que Bill tinha boas chances de conseguir a sobriedade. Muito poucos de seus pacientes se mantinham sóbrios por longos períodos de tempo, mas ele nunca perdeu a esperança, Bill, com os novos conhecimentos adquirido-a respeito da natureza do seu alcoolismo, saiu do hospital acreditando ter solucionado o problema.

O conhecimento de si mesmo iria salvá-lo. Mas Bill voltou a beber e retornou ao Hospital Towns. “Pareceu-me que tinha chegado o fim; as cortinas tinham-se fechado”, escreveu. “Informaram a minha mulher, exaurida e desesperada, que tudo acabaria com um ataque cardíaco durante um delirium tremens, ou acabaria tendo um edema cerebral talvez em menos de um ano. Logo seria entregue ao coveiro ou internado num manicômio”.

Ao sair novamente do hospital, Bill se manteve um tempo sóbrio antes de se jogar novamente na que ia ser sua última bebedeira em novembro de 1934. Quando voltou ao Hospital Towns pela terceira vez (2), estava considerando seriamente um programa espiritual que um velho amigo tinha lhe apresentado.

Durante essa terceira internação teve a deslumbrante experiência espiritual que aparece descrita no Livro Azul (página 45). Quando Bill relatou a experiência ao Dr. Silkworth, o médico disse-lhe: “Alguma coisa lhe aconteceu que eu não compreendo, Bill. Mas, seja qual for a experiência que você teve, e melhor que se agarre a ela; é muito melhor que o que você tinha até pouco tempo atrás”.

Depois de sair do hospital, Bill começou a levar a mensagem a outros alcoólicos, contando lhes sua própria experiência espiritual e insistindo em que a eles poder-lhes-ia acontecer o mesmo. Mas nenhum desses alcoólicos alcançou a sobriedade, e passado um tempo, o Dr. Silkworth lhe sugeriu que talvez pudesse ter mais sucesso se deixara de pregar e se focasse no aspecto médico da sua condição explicando-lhes que tinham uma doença incurável e não poderiam voltar a beber nunca mais.

Refletindo sobre essa sugestão, Bill mudou seu foco justamente antes de viajar para Akron onde estava destinado a conhecer o Dr. Bob. Parecia uma ironia que Bill, não tendo nenhuma informação de medicina, comunicasse esta informação médica ao Dr. Bob que era um médico já experiente.

Mas o fez com todo sucesso e o Dr. Bob, depois de mais uma viagem à embriaguez, manteve-se sóbrio o resto da sua vida e contribuiu enormemente para lançar A.A. no Meio Oeste dos EUA.

De volta à cidade de Nova York, Bill formou um Grupo que entre seus membros havia alguns alcoólicos tratados no Hospital Towns. Continuava a apresentar a ideia do Dr. Silkworth de que o alcoolismo é uma reação alérgica. Em 1937, o Dr. Silkworth publicou dois artigos na revista The Medical Journal, nos que tratou desta então polêmica abordagem. Além disso, comentou também a respeito de certa “psicologia moral”,que estava ajudando alguns alcoólicos a alcançar a sobriedade, referindo-se aos esforços de Bill.

Mais tarde, num artigo publicado na revista médica The Lancet, o Dr. Silkworth fazia uma explanação sobre esse tema. E, embora ainda não fosse usada na medicina apalavra “alergia” para indicar uma causa do alcoolismo, já existiam fortes evidencias de que essa condição tinha um componente físico.

O Dr. Silkworth continuou trabalhando no Hospital Towns e durante os seis últimos anos da sua vida também tratou pacientes no Hospital Knickerbocker, onde contava com uma assistente de nome Teddy, que também parecia ter o dom de ajudar os alcoólicos.

Em 1951, o Dr. Silkworth parecia desfrutar de boa saúde e ainda conseguia tratar pacientes. Mas já tinha 78 anos de idade e precisava caminhar mais lentamente. Não tinha plano de pensão nem outros recursos para se aposentar, mas Bill idealizou um plano que tornaria possível ao doutor continuar a trabalhar e ao mesmo tempo viver com sua mulher em condições mais cômodas.

Através de seus contatos no campo do alcoolismo, Bill soube que um centro de tratamento em Dublin, New Hampshire, precisava um diretor clínico. Na visão de Bill este posto pode uma residência de aposentadoria. Os Silkworth poderiam morar lá como se fosse um centro de férias na montanha e o hospital contaria com a pericia do doutor e sua experiência no campo do alcoolismo.

Bill também desenvolveu um plano para arrecadar fundos para o centro e assim contribuir para torná-lo solvente. Sem dúvida era um bom plano, mas antes de poder implementá-lo, o Dr. Silkworth morreu de ataque cardíaco no dia 22 de março de 1951, Seu obituário, que apareceu no New York Times, mencionou seu serviço a A.A.

A Fundação do Alcoólico também lhe rendeu homenagem; no texto, provavelmente obra de Bill, descrevia o doutor como “o primeiro e talvez o melhor amigo de Alcoólicos Anônimos” e reconhecia sua profunda compreensão de A.A. no seu começo e o animo que lhe dava numa época em que a falta de compreensão ou uma palavra de desalento poderia ter acabado com a Irmandade. “Era um homem santo… Podia salvar vidas que eram irrecuperáveis por qualquer outro meio. Um homem assim, não pode morrer no sentido literal. Nosso amigo nos deixou… apenas por um momento”.

N.T. :Vários historiadores e documentos oficiais de A.A. atestam que foram 4 internações de Bill W. no Towns Hospital, e não 3 como sustenta o artigo.

Teriam sido elas:a primeira no outono de 1933, a segunda em julho de 1934, a terceira em 17 de setembro de 1934 e a quarta em 11 de dezembro de 1934.

Um exemplo:

“Bill Wilson, cofundador de Alcoólicos Anônimos (A.A.), foi internado no Towns Hospital quatro vezes entre 1933 e 1934. Em sua quarta e última estadia, ele mostrou sinais de delirium tremens e foi tratado com a cura Belladonna. Ele teve seu “Hot Flash” – despertar espiritual, ao se submeter a esse tratamento, na segunda ou terceira noite após a internação, dependendo da fonte. Quando ele saiu do Towns Hospital depois de uma estadia de sete dias, ele nunca voltou a beber novamente…”.