A força do apadrinhamento

O amor incondicional, fraterno e espiritual de um padrinho falou mais alto em face de uma recaída.

Seis anos atrás, eu ainda estava bebendo. Tinha 49 anos de idade e participava de muitas festas, vivia rodeada de “amigos” e nunca tinha hora para voltar para casa. Fui internada após uma tentativa de suicídio. Então, minha filha mais velha falou-me de Alcoólicos Anônimos e acompanhou-me a uma reunião.

Lá ouvi depoimentos de pessoas com problemas iguais aos meus. Algo despertou em mim e passei a ir todos os dias às reuniões do grupo. Fiz novos amigos e, dentre eles, houve um especial, que esteve a meu lado durante minha caminhada na Irmandade, apadrinhando-me e mostrando-me a lindeza de A.A., desde a história inicial com Bill e Dr. Bob até o surgimento dos Doze Passos e das Doze Tradições. Um programa de vida que resgata valores e a vida em família.

Porém, para manter-me como membro de A.A., senti ser necessário admitir que sou impotente perante o álcool e que perdi o domínio da minha vida, e eu o fiz – rendi-me, tal como sugere nosso Primeiro Passo. E entreguei-me de corpo e alma ao programa, pois estava cansada de sofrer nas garras do alcoolismo. Não foi fácil para mim. Eu ia às reuniões todos os dias e ouvia companheiros dizerem que estavam felizes. Eu desejava conhecer essa felicidade.

Fui muito bem apadrinhada e passei a praticar o programa a cada dia, acatando todas as sugestões e buscando ajuda do padrinho, que nunca hesitou nem se negou a responder meus questionamentos e esclarecer minhas dúvidas. Eu tinha muito medo de voltar à vida do passado e novamente envergonhar meus filhos, com bebedeiras, enganos, mentiras e falsas amizades, então, matava um leão por dia, espelhando-me em AAs que afirmavam que nosso programa devolve-nos a uma vida feliz e significativa, bem como ao amor da família: filhos, esposas, maridos. Como eu queria sentir esse amor, pois há anos não o sentia.

Permaneci trabalhando em prol da minha recuperação no grupo, levando a mensagem de A.A. aos que ainda sofrem, por necessidade de sobrevivência e por amor. Pude ver a luta daqueles que estão internados, tal como um dia eu estive e, com minha experiência, transmitir-lhes esperança.

Porém, durante uma recaída emocional, acabei ingerindo novamente o primeiro gole de bebida. Sofri muito e, envergonhada e arrependida, corri para contar ao padrinho, que me acolheu e amparou, sem julgamento. Apenas me incentivou e encorajou a voltar ao grupo e às reuniões.

Ocorre que meu medo de ser criticada e julgada pelos companheiros era muito grande. Nesse período, meu padrinho estava seriamente enfermo, já em fase terminal e dizia-me que sua felicidade seria ver-me voltar à Irmandade e fazer o que eu sabia fazer: trabalho com os outros. Durante alguns meses, ainda me mantive afastada do grupo, sem beber mais. Finalmente, voltei às reuniões, porém, em outros grupos que não meu grupo base, ainda por vergonha dos companheiros.

Numa segunda-feira, recebi o telefonema que nunca quis receber: meu padrinho, que me ensinou o quanto nossa Irmandade é bela, havia partido dessa vida. Mesmo em seu leito de enfermidade, ele encorajou-me a voltar ao grupo base e a ser honesta, vivendo um dia de cada vez.

Hoje, esteja ele onde estiver, estou certa de que estará feliz comigo, porque retornei ao grupo base e lá permaneço ativa no serviço, atualmente na coordenação do CTO. Aos 55 anos, que acabei de completar, sinto-me feliz, reconhecendo que, graças a Alcoólicos Anônimos, resgatei o amor e respeito de meus filhos e genros. Estamos sempre juntos nos finais de semana, brincamos e rimos bastante junto de meus netos. Hoje, sinto tudo que não sentia durante o alcoolismo ativo: sou amada e respeitada, grata a um Poder Superior, aos companheiros e ao padrinho que, ao passar por minha vida, mostrou-me o caminho da felicidade verdadeira: uma nova maneira de viver, com alegria em todas as situações que a vida me apresenta. Colocando o programa de A.A. em minha vida, estou construindo uma caminhada feliz e significativa.

Vivência 169 – PÁGINA: 8