“Quanto melhor informados estiverem os membros do grupo e quanto mais participarem das decisões, mais salutar e feliz será o grupo e, consequentemente, menos divergências, críticas e problemas surgirão”. Este, o pensamento que levou a última Conferência de Serviços Gerais a escolher, para a próxima, o tema “vivenciando a Literatura e reformando a Matriz”, assunto que deverá ser exaustivamente debatido pelos grupos, para apresentação de resultados junto àquela Augusta Assembleia.
Entendemos que uma maior compreensão do tema só seria possível se todos se dedicassem à leitura de nossas literaturas, ao estudo das nossas raízes, dos conflitos vividos pelos nossos antecessores, analisando, ainda com profundidade, os princípios de RECUPERAÇÃO, UNIDADE e SERVIÇO, deixados por Bill e Bob. Esse estudo poderia também nos levar a um perfil aproximado “do que somos, de onde viemos e para onde vamos”.
Entretanto, é comum ouvirmos os membros mais antigos dizerem ao recém-chegado não se preocupar com as literaturas, apenas manterem a mente aberta, evite o primeiro gole e assista à reuniões. Fizemos assim e estamos sóbrios, dizem eles. Será que esses companheiros estão sóbrios mesmo ou apenas abstêmios? A verdade é que, para eles, as nossas literaturas são supérfluas e desnecessárias. Nenhuma influência têm na recuperação do alcoólico.
Se fosse só até aí, tudo bem, o próprio tempo se encarregaria de desfazer os males causados por tamanhos absurdos. O pior é que tais inverdades proliferam em cadeia à proporção que cada afilhado usa à “cabeceira de mesa” para transmitir sua mensagem, até mesmo em reuniões públicas. Nesse momento, uma vida humana e geralmente a felicidade de toda uma família está em jogo. A mensagem distorcida levada pelo orador pode ser a diferença, muitas vezes a diferença entre a vida e a morte.
Lembramo-nos de nossa chegada em A.A., quando ouvíamos os “antigos” discorrerem sobre “Os Passos”, “As Tradições” e “Os Conceitos”, numa verdadeira demonstração de conhecimento e sabedoria. Hoje, familiarizado com o programa, descobrimos que a história do A.A. é bem outra e que aquilo que ouvíamos ao chegar não está escrito em nossa literatura, ficando por conta da fértil imaginação daqueles companheiros.
A nossa literatura nada mais é que mensagens deixadas por Bill, Bob e outros. Elas representam para nós exemplos vivos de lutas, de sacrifícios, de abnegação e de perseverança. Elas retratam a história das “Tradições”, dos “Passos”, dos “Conceitos”, como surgiram, como foram escritos. Relatam o fracasso do “Movimento Washingtoniano”, de onde tiramos sábias lições. Sem literatura, tornar-se-á impossível o entendimento do “Anonimato”, do fundamento de “Autossuficiência”, da “Autonomia de Grupo”, do “Não profissionalismo”, etc…
O fato é que privar o membro de A.A. do conhecimento da literatura é mantê-lo afastado dos ensinamentos básicos e filosóficos da Irmandade e, portanto, sem condições de “dar de graça o que de graça recebeu”. Portanto, leia e divulgue a nossa literatura…
Vivência nº 21 – Julho/Agosto/Setembro 1992